segunda-feira, 23 de junho de 2008

Os dias, na esperança de um só dia...

"Os dias, na esperança de um só dia, passava, contentando-se com vê-la; porém o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe dava Lia.", Luís de Camões

Recordo o teu ar assustado perante a desorganização do mundo, recordo-te o sorriso terno e nostálgico como se estivesses sempre a perder um pedaço de nós. Recordo o teu ar vaidoso e ao mesmo tempo envergonhado quando vestes algo de novo. Recordo a mala do teu tamanho que trazes sempre ao teu lado onde aconchegados nos leva. Recordo que quando precisei bastou a minha voz trémula e tu apareceste. Recordo que quando nos contavas os teus sonhos nós tinhamos sempre uma função, estávamos lá. Recordo a tua lealdade, sei que tu nunca me traíras, n consigo explicar mas tenho a certeza. Recordo a as tuas manias, essa protecção que usas contra um mundo que insiste em mudar as coisas que mais amamos. Recordo a quereres estar sempre presente, e tens razão, sem ti os nossos acontecimentos não sao os mesmos. Recordo-te a ler jornal com gosto e interesse tal qual um ritual. Recordo-te o sentido de humor prático e azedo no qual rebentei muitas vezes em gargalhadas. Recordo-te a força e uma certa disciplina com orgulho. Recordo-te o olhar cúmplice. Para mim és a passagem de dias na esperança de um só dia.

1 comentário:

Lia Ferreira disse...

E eu recordo-te assim...tu que me deixas os olhos baços porque me desmontas sem nenhuma lamechice. Me desmontas com as palavras da minha infância.Podia jurar que,a existirem outras vidas, foste tu numa delas que me aconchegaste na cama e me contaste as estórias do monstro Adamastor, das conquistas, dos reis que nos construiram, dos amores dos pastores por donzelas,que me citaste Eça e Pessoa e Camilo.Amo-te.