terça-feira, 10 de março de 2009

Á Yle numa voz portuguesa em poema espanhol.

Um outro olhar sobre portugal.

Sonhei que estava um dia em Portugal
À toa ..
num Carnaval em Lisboa

Meu sonho voa além da Poesia
E encontra o poeta em Pessoa

A lua mingua
E a língua Lusitana
Acende a chama
E a palavra Lusíada

Na via pública
Em forma de música:
Lusíada, Lusíada, Lusíada...

Anda Luzia, pega o pandeiro e cai no carnaval
Anda Luzia, que esta tristeza te faz muito mal..., Maria Bethania

Para mim o Oscar ia para...

segunda-feira, 9 de março de 2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

Hipocondriaco e Sentimental


“Chegaram as análises. Atrasei-as um mês, invadido por um pressentimento sombrio. Depois, a fé supersticiosa do hipocondríaco levou a melhor e estendi o braço à agulha, odiada desde infância. É habitual os psis vestiram a hipocondria com as roupas negras e longas da depressão a fazerem lembrar os vestidos severos das divas do fado. Estou de acordo – muitas vezes, o questionar obsessivo do corpo esconde a tristeza funda e solitária. Impede o voo além da própria sombra, quanto mais o pousar nos braços de outros! E contudo, a hipocondria pode ceder face a paixão alucinada ou tragédia real. Como se amor e drama lhe roubassem a energia necessária para a sua interminável busca. […]” in, Jogo dos Espelhos, Júlio Machado Vaz

Elogio ao Amor


Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão alimesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia aspessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passívelde ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia serdesmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amorcego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, sãouma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nascostas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea porsopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amorfechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor éamor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como nãopode. Tanto faz. É uma questão de azar.O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não sepercebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor éa nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amorque se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se podeceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também." in Expresso, Miguel Esteves Cardoso

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Poema à Lia no Dia do seu Aniversário

Poema do amigo aprendiz
Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

Fernando Pessoa

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Agostinho da Silva


Homenagem ao maior filósofo do séc.XX português

Amor é...


Poema dedicado com certa ironia a Laurinda Alves

O PASSEIO DE SANTO ANTÓNIO
Saíra Santo António do convento, ~
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento,
Um cândido sermão sobre o pecado.
Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite plácida baixando…
E andando, andando, viu-se num outeiro,
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, das puxadas.
Surpreendido por se ver tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo…
O luar, um luar claríssimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do céu,
Pôs-se a brincar com o capuz do frade.
Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Os rouxinóis ouviam-se distante.
O luar, mais alto, iluminava mais.
De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia… o coração no peito.
Sem suspeitarem de que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse: - Ó Frei António, o que foi aquilo?…
O Santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel: - Não sei o que fosse. Eu cá não ouvi nada…
Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho.
- Ouviste, Frei António? Ouviste agora?
- Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho.
- Tu não estás com a cabeça boa…Um passarinho a cantar assim!…
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,
Corado como as vestes dos cardeais,
Achou esta saída redentora:
- Se o Menino Jesus pergunta mais, …Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!
Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-lhe ao colo e acrescentou: - Jesus, São horas…
E abalaram pró convento.
in Luar ao Janeiro, Augusto Gil

O Ritual


Natália Correia



O TRUCA-TRUCA DO MORGADO
Já que o coito - diz Morgado -tem como fim cristalino, preciso e imaculado fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão sexual petisco manduca, temos na procriação prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento, lógica é a conclusão de que o viril instrumento só usou - parca ração! -uma vez.
E se a função faz o órgão - diz o ditado -consumada essa excepção, ficou capado o Morgado.
in Natália Correia

Bocca


Depois de dois anos e de muito critério e alguns euros mais pobre permitam-me a opinião de vos dizer qual para mim o melhor restaurante de Lisboa: BOCCA www.bocca.pt

Eu admiro-te!

Vasco Pulido Valente

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Há dias felizes.


Àquela que se proclama Dri.

Louca,
sou louca por gestos suspensos no ar,
Beijos na boca
Que nunca se chegam a dar!...

Eu sei...
Cansei
De te ver sem te olhar
Não sei, não sei...

Louca, sou louca
Pelo fogo que não vejo arder
Água na boca
Ter sono e não adormecer

Eu sei, eu sei...

Eu sei lá se é a lua
Que me despe na rua
Eu sei lá, já nem sei!

Eu sei lá
Quando durmo
Se vou acordar...

Eu sei lá se sou tua,
Se me visto, ou estou nua,
Eu sei lá, já nem sei!..

Eu sei lá, se me rio
Ou se vou chorar! , in Àgua na Boca, Lara Li

Fevereiro - Mês da Minha Mãe

À minha querida Mãe
Eis-me aqui em Portugal
Nas terras onde nasci.
Por muito que goste delas
Ainda gosto mais de ti.

in Fernando Pessoa
(Tinha sete anos quando dedicou esta quadra à Mãe)

Mário Viegas


"Vocês sabem lá a saudade de alguém que está perto" in Vocês sabem lá, Jerónimo de Bragança

Mauvais Garçons - O Refúgio


"Que vergonha, rapazes!

Nós pràqui,caídos na cerveja ou no uísque,a

enrolar a conversa no «diz que»e a desnalgar a fêmea («Vist'? Viii!»).

Que miséria, meus filhos!

Tão sem jeito é esta videirunha à portuguesa,

que às vezes me soergo no meu leito e vejo entrar quarta invasão francesa.

Desejo recalcado, com certeza...Mas logo desço à rua, encontro o Roque

(«O Roque abre-lhe a porta, nunca toque!»)e desabafo: - Ó Roque, com franqueza:Você nunca quis ver outros países?- Bem queria, Sr. O'Neill! E... as varizes?" in "De Ombro na Ombreira" (1969), de Alexandre O'Neill

Príncipe Real


"Encontrar poder encontrar todas as coisas que eu não soube dar" , in Casa Adriana Calcanhoto

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Barcelona é quem por lá passa.


Poema numa esquina de Paris


Dezenas e dezenas de pessoas passam ininterruptamente ao longo do passeio.

Umas para lá.

Outras para cá.

Umas para cá.

Outras para lá.

Mas cada uma que passa tem de fazer na esquina um pequeno rodeio para não se esbarrar com o par que aí se abraça.

Olhos cerrados, lábios juntos e ardentes, tentam matar a inesgotável sede.

Através dos seus corpos transparentes lê-se na esquina da parede:

DANS CETTE PLACE A ÉTÉ TUÉ

MAURICE DUPRÉ

HÉROS DE LA RESISTANCE.

VIVE LA FRANCE.