quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Poema à Lia no Dia do seu Aniversário

Poema do amigo aprendiz
Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

Fernando Pessoa

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Agostinho da Silva


Homenagem ao maior filósofo do séc.XX português

Amor é...


Poema dedicado com certa ironia a Laurinda Alves

O PASSEIO DE SANTO ANTÓNIO
Saíra Santo António do convento, ~
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento,
Um cândido sermão sobre o pecado.
Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite plácida baixando…
E andando, andando, viu-se num outeiro,
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, das puxadas.
Surpreendido por se ver tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo…
O luar, um luar claríssimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do céu,
Pôs-se a brincar com o capuz do frade.
Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Os rouxinóis ouviam-se distante.
O luar, mais alto, iluminava mais.
De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia… o coração no peito.
Sem suspeitarem de que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse: - Ó Frei António, o que foi aquilo?…
O Santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel: - Não sei o que fosse. Eu cá não ouvi nada…
Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho.
- Ouviste, Frei António? Ouviste agora?
- Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho.
- Tu não estás com a cabeça boa…Um passarinho a cantar assim!…
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,
Corado como as vestes dos cardeais,
Achou esta saída redentora:
- Se o Menino Jesus pergunta mais, …Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!
Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-lhe ao colo e acrescentou: - Jesus, São horas…
E abalaram pró convento.
in Luar ao Janeiro, Augusto Gil

O Ritual


Natália Correia



O TRUCA-TRUCA DO MORGADO
Já que o coito - diz Morgado -tem como fim cristalino, preciso e imaculado fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão sexual petisco manduca, temos na procriação prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento, lógica é a conclusão de que o viril instrumento só usou - parca ração! -uma vez.
E se a função faz o órgão - diz o ditado -consumada essa excepção, ficou capado o Morgado.
in Natália Correia

Bocca


Depois de dois anos e de muito critério e alguns euros mais pobre permitam-me a opinião de vos dizer qual para mim o melhor restaurante de Lisboa: BOCCA www.bocca.pt

Eu admiro-te!

Vasco Pulido Valente

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Há dias felizes.


Àquela que se proclama Dri.

Louca,
sou louca por gestos suspensos no ar,
Beijos na boca
Que nunca se chegam a dar!...

Eu sei...
Cansei
De te ver sem te olhar
Não sei, não sei...

Louca, sou louca
Pelo fogo que não vejo arder
Água na boca
Ter sono e não adormecer

Eu sei, eu sei...

Eu sei lá se é a lua
Que me despe na rua
Eu sei lá, já nem sei!

Eu sei lá
Quando durmo
Se vou acordar...

Eu sei lá se sou tua,
Se me visto, ou estou nua,
Eu sei lá, já nem sei!..

Eu sei lá, se me rio
Ou se vou chorar! , in Àgua na Boca, Lara Li

Fevereiro - Mês da Minha Mãe

À minha querida Mãe
Eis-me aqui em Portugal
Nas terras onde nasci.
Por muito que goste delas
Ainda gosto mais de ti.

in Fernando Pessoa
(Tinha sete anos quando dedicou esta quadra à Mãe)

Mário Viegas


"Vocês sabem lá a saudade de alguém que está perto" in Vocês sabem lá, Jerónimo de Bragança

Mauvais Garçons - O Refúgio


"Que vergonha, rapazes!

Nós pràqui,caídos na cerveja ou no uísque,a

enrolar a conversa no «diz que»e a desnalgar a fêmea («Vist'? Viii!»).

Que miséria, meus filhos!

Tão sem jeito é esta videirunha à portuguesa,

que às vezes me soergo no meu leito e vejo entrar quarta invasão francesa.

Desejo recalcado, com certeza...Mas logo desço à rua, encontro o Roque

(«O Roque abre-lhe a porta, nunca toque!»)e desabafo: - Ó Roque, com franqueza:Você nunca quis ver outros países?- Bem queria, Sr. O'Neill! E... as varizes?" in "De Ombro na Ombreira" (1969), de Alexandre O'Neill

Príncipe Real


"Encontrar poder encontrar todas as coisas que eu não soube dar" , in Casa Adriana Calcanhoto

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Barcelona é quem por lá passa.


Poema numa esquina de Paris


Dezenas e dezenas de pessoas passam ininterruptamente ao longo do passeio.

Umas para lá.

Outras para cá.

Umas para cá.

Outras para lá.

Mas cada uma que passa tem de fazer na esquina um pequeno rodeio para não se esbarrar com o par que aí se abraça.

Olhos cerrados, lábios juntos e ardentes, tentam matar a inesgotável sede.

Através dos seus corpos transparentes lê-se na esquina da parede:

DANS CETTE PLACE A ÉTÉ TUÉ

MAURICE DUPRÉ

HÉROS DE LA RESISTANCE.

VIVE LA FRANCE.